A tarde estava bonita e os meninos se divertiam. Chutavam bola de um gol para o outro num campo improvisado. Vai logo! Gol! Agora agarre essa bomba... Num dado momento, uma menina surgiu. Ela se sentou no chão, bem próxima de onde os dois irmãos estavam e se mostrou interessada em se tornar espectadora daquela brincadeira. Os jogadores gostaram, mas o problema é que a garota veio com um refrigerante numa garrafa de vidro. O jogo foi interrompido para que um aviso importante fosse dado. Cuidado com a menina! Mire bem para não provocar um acidente. O jogo prosseguiu pra lá e pra cá, até que um chute sem pé nem cabeça espatifou a garrafa de vidro da menina. O jogador que fez a falta saiu correndo. Parecia que ele tinha por certo que estava sendo perseguido. Surgiu na frente de sua mãe totalmente esbaforido, suado e sem cor. Sem se exasperar, afinal tinha prática de lidar com as urgências de gente miúda, ela lhe perguntou qual era o problema. Do alto de seus sete anos e num fôlego só, despejou seu pânico. Tem uma menina que quer me matar! Vem tomar uma água e me conte... O que houve? Cadê seu irmão? Estávamos jogando bola, quando uma menina se sentou com uma garrafa perto do nosso jogo. Falei para tomar cuidado e eu mesmo acabei acertando em cheio na garrafa. Foi sem querer... A mãe não precisou maiores explicações. Vamos! Ajude-me a levar uma vassoura, pá e jornal para catar todo vidro quebrado. Encontraram a menina perto do local do jogo. Não parecia que ela tinha perseguido ninguém, muito menos tinha ares de quem iria cometer um assassinato. A mãe garantiu para a garota que assim que limpasse tudo, iria lhe comprar um novo refrigerante. O menino pediu desculpas e, cheio de dedos, abraçou a menina. Tudo se resolveu. E como fecho especial, uma espécie de cereja do bolo de uma estória tão singela, o filho lançava sem parar um olhar de gratidão para mãe, enquanto eu, ou melhor, a menina, chupava seu refrigerante num canudinho, sem pressa nenhuma de acabar aquele momento...